13h04. Esse vai para um capilar porque me comprometi a
deixar o post de agradecimento à minha mãe até o domingo como primeiro post do
meu blog para dar tempo de Seu Raimundo, caso se disponha a ler, dê de cara
logo com ele, para que saiba a real dimensão e importância que o livro tem para
mim. Acho que se isso fizer alguma diferença para ele vai ser no sentido de
intimidá-lo a dar o seu parecer sobre a obra e me ter como louco. Em relação ao
meu tio, não sei se ele já leu o WhatsApp de mamãe e se viu e não respondeu, é
porque não está disposto a ajudar. Não acredito que fará uma desfeita dessa com
mamãe, mas para ele eu mandei o link diretamente para o post. Não fiz como com
o escritor, para quem mandei apenas o endereço do blog, sem referência a um
post específico. Por isso, para ter o mínimo de segurança de que o escritor vá
ler o post em questão preciso deixá-lo pelo menos pelo final de semana como
primeiro do blog.
13h18. O primeiro parágrafo foi extremamente difícil de
redigir, comecei e recomecei umas três vezes. Depois da cutucada na existência
com vara curta e de uma noite de sono para esfriar os ânimos, não sei se fiz a
coisa mais acertada. Mas agora está feita, não há como desfazê-la. Estou com
vontade de tomar mais um copo de Coca, mas esperarei até as 13h40.
13h22. Nossa, como queria uma resposta do escritor para o
bem ou para o mal. Aliás, para o mal me destruiria por dentro e me desmotivaria
a publicar. Mas não de todo. Ainda vou mandar para as editoras que forem
cabíveis. Ou, melhor dos cenários, meu tio fazer a distribuição com o peso do
seu nome e cargo por mim. Isso garantiria pelo menos que o texto seria lido e
analisado. “Landlady” passa, linda, linda. Quem me dera fosse um bom sinal.
Preciso reler o post, pois nem me lembro o que coloquei. Vou fazer isso agora.
13h38. É, o post diz tudo, minhas expectativas e aspirações
a respeito da obra e ainda faz um breve histórico de quem eu sou e como levo a
vida. Não sei se sensibiliza, mas é sincero, e a sinceridade sempre me pareceu
a melhor ferramenta para lidar com a realidade. 13h40. Vou pegar mais uma Coca.
Não estou muito para café no momento, embora haja. Minha mãe fez. Amo a minha
mãe.
13h49. Coloquei Coca e já fumei o quarto cigarro de hoje,
agora chegou o momento de me segurar no Vaporfi. Quando tiro a carteira do meu
campo de visão fica mais fácil, olhando sempre para ela a vontade bate com mais
facilidade e intensidade. Desliguei o ar. Estou meio travado para escrever
hoje. Tenho que relaxar mais e deixar fluir o que tiver de fluir. Aí me vem
assuntos que não posso e não devo comentar ainda. Estou de bem comigo hoje, não
sei se resultado da trela de ontem, que, sem dúvida, me deixou mais aliviado,
pois senti que estava fazendo algo de real para a consecução do meu sonho.
Odeio ficar de mãos atadas. Minhas mãos estão livres agora, mas não tenho mais
cartas para jogar, o jogo está posto na mesa da existência e o resultado só o
tempo o dirá. O tempo de a revisão ficar pronta, completa, redonda. Como queria
que a incrível achasse que não há nada a cortar ou que ela mesmo identificasse
o que deveria ser cortado. Quem me dera ela gostasse do material apesar de
tocar em assuntos que possam ser perturbadores para ela. Acho que ela gostou
mais de revisar o livro do meu amigo que o meu. Talvez queira um aumento se
reformatou o texto para os padrões pedidos para leitura. Sei lá, quando a
primeira revisão ficar pronta, saberei. Minha mãe anda desconfiada dela, vive a
me dar indiretas, perguntando se ela tem se comunicado comigo e coisas do
gênero. É a mentalidade de cliente, está pagando, acha que tem direito sobre a
vida e os métodos do prestador de serviço, como se esse, essa, no caso, fosse
um serviçal. Antes de revisora ela é minha amiga e dei-lhe todo o tempo do
mundo para revisar porque eu mesmo odeio prazos, sei que eles comprometem tanto
quanto motivam. Mas acho que a minha amiga é responsável e dedicada o
suficiente para não precisar desse expediente, dessa pressão para concluir a
revisão. Até porque há motivação outra, a outra metade do pagamento. Mas não
quero falar de capitalismos aqui. Só mais uma coisa antes de abandonar o tema,
parece que os caminhoneiros farão outra paralisação, mais radical que a
primeira. É o burburinho que zune na internet e chega até a um cara alienado
como eu. Não sei se é verdade, se for, serão tempos interessantes, pois afetam
diretamente todas as classes. Já há privações agora, imagino se a retomada da
greve se concretizar.
14h19. Parei para dar uma olhada no Facebook. Nada que se
aproveite.
14h23. Fui curtir a foto do filho de um amigo meu e dei de
cara com um dos textos de um amigo escritor. Ele tem melhorado. Esse tem mais
narrativa que os demais. Percebe-se o esmero que tem na seleção das palavras.
Isso já não se percebe aqui. Aqui há palavras demais e não são tão seletas como
as dos pequenos textos dele. Não é a minha praia. Estou mais para Caetano que
para Chico. Embora ache os dois ótimos com as palavras, o que não é o meu caso.
Hahaha. Não escrevo também realismo fantástico como o meu amigo escritor.
Descrevo o que me passa na cabeça, sem invenções, quando elas surgem são poucas
e rasteiras. Meu amigo é mais bem-sucedido que eu como escritor. Não sei como
ele fez para vender o seu peixe, eu estou tentando vender o meu do jeito que
posso. Será muita incompetência minha, tendo um tio na posição que tenho, não
conseguir publicar. Ou muita falta de disposição deste em me ajudar. Vou
esperar dar uma hora entre um copo de Coca e outro para ir pegar o próximo.
Estou para lá de curioso em descobrir o que o futuro me reserva quanto a esse
assunto. É o assunto da minha vida. É a realização da minha vida. Minha
consagração como gente. Por mais que vá sofrer severo preconceito. Isso pouco
se me dá, o preconceito dos demais não vai adentrar o meu quarto-ilha. Não vai
afetar a minha rotina em que cada vez menos gente cabe. Ou cada vez menos gente
quer caber. Ou sou eu que não caibo mais em meio as pessoas.
14h44. Peguei outra Coca, mas já está no final do copo. Pois
é cada vez mais solitário e tão mais me tornarei com a publicação do livro.
Espero estar fazendo tempestade em copo d’água. Mas creio que não estou. Sei
lá. O futuro a Deus pertence, como diria o meu amado e finado pai. Agora só me
resta dar tempo ao tempo. Tudo o que podia fazer foi feito. Não há mais o que
possa conceber que possa fazer até o final da revisão. Só esperar. Confesso que
estou sem a mínima disposição de reler tudo uma vez e mais outra e mais outra.
Mas se é para a realização do meu grande sonho o farei. Qualquer esforço é
válido para me sentir válido como gente. Por mais que o livro venha a me
denegrir mais do que falar bem de mim. Espero que mamãe vá dormir depois do
almoço. Quero me servir de Coca com mais frequência e menos policiamento.
15h00. Nossa, como sou enamorado do meu Hulk e como joguei
StarFox 64. Zerava toda vez que jogava. E joguei várias. Era superdivertido.
Tenho o mais novo StarFox e não tenho o mínimo ímpeto de jogá-lo. Os controles
são muito diferentes do 64. Parece que tem que se jogar olhando para a tela do
controle. E segurá-lo no ar de frente para a tela. Não parece nada prático.
Nunca tentei, não posso dizer com certeza. Um dia, sabe-se lá quando, eu ainda
o jogarei ou essa é uma possibilidade que não descarto. Como quero jogar Red
Dead Redemption. Para esse tenho ainda menos inclinação. Last of Us. Eita, a
lista é imensa. Nem quero pensar nisso. É algo que enche a minha cabeça com
informações demais. Queria entender por que precisamente eu me desinteressei
por games. Foi de uma hora para a outra. Minha teoria é porque acumulei jogos
demais. Mas não foi só isso, escrever se mostrou algo mais compensador,
divertido e fácil. Algo que me preenche mais como ser humano do que jogar os
games. A maioria dos jogos que tenho ainda está lacrada.
15h20. Ah, que alívio. Pulei o parágrafo para fugir da
paranoia dos jogos que vez por outra me ataca. Será que ainda estão a almoçar?
Vou pegar uma xícara de café.
15h26. Acabaram de acabar. Tem um pastel de nata para eu
comer. Mamãe coincidentemente me incentivou a jogar videogames. Mas só de
pensar me toma uma repulsa. Não vou fazer uma coisa que me gera repulsa,
podendo fazer algo que me agrada. E nem me agrada tanto ultimamente, mas é o
que me vem mais fácil, basta dizer o que me vem à cabeça. Mandei por e-mail
para mim mesmo as duas fotos que sonho que ilustrem o meu sonhado segundo
livro. Esse mais sonho ainda que o primeiro. Esse sonho totalmente desvairado.
Mas o futuro a Deus pertence. Não sei por que tenho para mim que se o livro, o
“Diário do Manicômio”, digo, fosse lançado com as cintas, ele seria um sucesso
editorial. “Landlady”. Quem me dera ela tocar agora fosse um sinal de que
minhas projeções são pertinentes. Hahaha. Que crendice mais idiota. Minha mãe
me deixou com um tantinho de nada de vontade de jogar o Deus EX. Mas não vou
jogá-lo agora. O que me impede? Nada me impede, eu me impeço. Como esse post
vai para um blog capilar o qual ninguém acessa, poderia falar de Aurora, mas
prefiro, guardar minhas palavras sobre ela para ela. Nem que eu publique apenas
um exemplar do livro para dar a ela, ou dez, não sei o preço que isso será.
Possa ser que em publicando o primeiro livro e ele sendo bem vendido, eu ganhe
como prêmio o direito de publicar uma segunda obra. Mas acho que aí é sonhar
alto demais. Eu oscilo entre esses dois extremos, de desilusão total com a obra
à esperança de que ela vai ser publicada e vender bem ao ponto de me outorgar a
possibilidade de publicar outro livro. Que já sei exatamente qual é. Não
despertará a mesma sensação do primeiro, mas pode gerar interesse ainda em
decorrência do “Diário do Manicômio”. Não basta ser lançado, eu ainda quero ter
sucesso. É de lascar mesmo. Vai sonhar alto assim na casa de chapéu. Hahaha.
Hoje, acho que devido ao café e a cutucada que dei na existência me sinto num
humor bem melhor do que estava nos últimos dias. É bom estar assim. É bom me
sentir assim. Contente em ser quem eu sou da forma como sou. Com os sonhos
inflados pelas duas variáveis enunciadas. Parei para pensar agora e me deu
medo. Medo de ser publicado. E de ser incompreendido pela sociedade. Mas já
enunciei isso tantas vezes que me sinto relativamente preparado. Me terão como
canalha pervertido, acho que essa é a imagem que traço de mim no livro. Não sei
se tão canalha e tão pervertido como me enxergarão, mas certamente não me verão
com bons olhos. Eu não me vejo com bons olhos, como pode mais alguém me
enxergar de forma diferente? Eu me pinto com tintas escuras e o ponto luminoso
da pintura é para lá de polêmico. Mas é o caminho que escolhi e estou disposto
a trilhar. Já desisti de Seu Raimundo. Ele para mim é passado. Não me mandou
sinal de vida ainda. Não mandará mais. Meu sonho perde uma das asas, mas ainda
voa com as demais que possui. Se me arrancarem a outra, meu tio, aí tudo se
torna muito mais difícil. Vou pegar uma Coca.
16h22. Hoje estou com o astral superiormente elevado, a vida
ou mina psique resolveu me dar uma trégua. Comi um pastel de nata que não
estava maravilhoso, mas gostoso o suficiente para me dar uma base. Ter comido
deu uma abaixada no meu astral, espero que passageira. Acho que há tanto a ser
mudado no livro que me dá preguiça só de pensar. Espero muito estar enganado.
Queria que a incrível revisora resolvesse tudo para mim. O que não será o caso
provavelmente. Então é me armar de paciência para revisar aquela maçaroca toda
provavelmente mais de uma vez. E quando estiver redondo, mandar para o meu tio
para ver o que ele pode fazer por mim. Era bom que tudo isso se desse antes da
viagem, o que não parece ser o caso, pois já viajo no final desse mês. Não
queria viajar. Mas não há essa alternativa no cardápio da minha vida. Não sei
como mamãe vai viajar com o joelho assim, será um grande problema. Sou tomado
por sentimentos negativos. Não é possível que eu que estava com o astral tão
bom, vá dar uma mareada, deixa eu ser feliz um dia apenas, vida? Deixa eu
curtir ficar aqui a me dizer, não me rouba isso de mim, não.
16h49. Meu astral murchou que nem pneu furado. Vou pegar
Coca.
16h52. Estou um pouco melhor. Estava estudando a capa do
segundo livro e não me agradei do que fiz. E olhe que nem há muito a se fazer.
Mas achei fraca, como achei a que fiz para o “Diário do Manicômio”. Será que
tudo isso não passa de sonho, que não passará de sonho? Será que não será
melhor para mim assim? Se tudo ficar apenas na imaginação? Eu já não sei mais.
Não sei mais o que quero, quero que tudo se exploda. Será que estou entrando
numa crise depressiva? Eu não sei. É tão bom dizer eu não sei. Eu não sei, não
sei de mais nada. Eu não sei o que fazer de mim. Eu não sei o que fazer do
amor. Eu não sei o que fazer do meu livro. Eu só sei que o terei revisado, se
tiver disposição de ajudar a revisora nesse papel. Eu não quero nada no
momento. Não quero o meu quarto reformado, não quero viajar, não quero querer.
Não quero escrever. Escrever eu ainda quero, por algum motivo que me escapa,
escrever eu ainda quero. É como se fosse uma força além de mim, minha pulsão de
vida gritando, para que eu não pare de vez. E caia. Em depressão,
provavelmente. Passei tantos anos longe desse pesadelo, será que ele vem de
novo me roubar de mim? Tomara que não. Não posso fraquejar. Comecei o dia tão
bem. O que se deu? Eu sinceramente não faço ideia. Só sei que vou fumar um
cigarro tomando uma Coca gelada.
17h14. Fumei o cigarro, coloquei o restinho da garrafa de
Coca e pensei em dar uma passada no meu projeto paralelo, mas desisti. Meu
humor fica oscilante. Isso é um saco, pois ele está orbitando entre o normal e
o péssimo. Esse humor negativo está assim há três dias já. Se perdurar até a
semana que vem, vou avisar à minha mãe. Nada me anima, estou preocupado. Mas
não quero encher o texto com essas palavras pesadas me reafirmar nesse estado,
pois isso não ajuda, piora. Tenho pensado em jogar Deus EX. Será que isso me
animaria? Pelo menos eu não quero morrer. Estou só de baixo astral. Ah, se meu
amigo da piscina me chamasse para descer. Seria a glória. Bati os contatos com
o meu amigo da piscina. Quem me dera. Já me sinto mal por ter feito isso. Puxa,
nada do que eu faço me agrada. Que deprê braba. Não posso cair em depressão. É
ruim demais. Queria me sentir normal pelo menos, sem essa angustiazinha chata.
Esse desconforto com a vida. É como se tivesse um pico de adrenalina e agora
viesse a rebordosa. Não sei nem se quero mais que o livro seja publicado. Só de
pensar no assunto me faz mal. Preciso desopilar geral dessa merda. Parece que
escolhi o caminho errado para a minha vida e agora não sei mudar o rumo a
direção. Quando penso no lançamento do livro penso em todos os meus amigos me
julgando e condenando. Que coisa ozzy. Queria apenas estar em paz. Não é pedir
muito. Estar de bem com a vida como estava no começo do post. Talvez esse
excesso de palavras esteja me fazendo mal. Talvez precise realmente desopilar um
pouco, mudar o meu foco de atenção para outra coisa, estou muito bitolado
nisso. Estou sonhando alto demais. Dói essa constatação. O que tenho é um texto
medíocre de uma situação degradante, com uma paixão polêmica. Não é nada
demais, não é nada que mereça ser lido, não é nada que me faça bem. Eu quero
algo que me faça bem. O que eu não sei. Conversar seria bom. Com Ju. Desabafar.
Está tudo dentro de mim em ebulição, como uma panela de pressão. O conteúdo do
livro é deprimente, ultrajante, por que vou querer tais coisas publicadas? Sou
um degenerado mesmo. Sou um merda, que leva uma vida merda, escrevendo merda.
17h48. Meu primo talvez vá no Seu Vital hoje, mas não há
nada certo. Me deu uma vontade danada de não ir agora, mas eu disse que podia
contar comigo. Talvez isso me faça bem à alma.
17h52. Peguei outro copo de Coca. Estava bem, mas de repente
tudo parece uma bosta. Estou com medo.
17h55. E eu que pensei que esse seria um dia agradável de
ser vivido. Começou bem, mas em algum momento descarrilhou. Não sei precisar em
qual. Dei umas baforadas no Vaporfi e isso levantou o meu astral um pouco. Não
posso ficar oscilando assim. Mas é melhor oscilar do que ficar só para baixo.
17h58. Estou mais animado, inclusive com a saída, que diabos
se dá comigo? Será só o Vaporfi? Se for é muito bom. A solução está bem ao
alcance da minha mãe. Talvez também tenha sido me desviar um pouco da neurose
do livro. Não quero falar sobre isso agora. Quero me focar na noite. Na
possibilidade de noite. Que não é ainda concreta.
18h04. Me peguei agora olhando para o Hulk e me lembrando
desse infame livro, no que meu tio responderá à minha mãe quando porventura ver
a mensagem que ela mandou por WhatsApp. A vontade que tenho é encerrar esse
post por aqui, revisar e começar outro. Mas acho que só vou começar outro
quando voltar da saída. Meu amigo da piscina não está aqui no prédio. Que pena.
Mas agora, com a saída, nem iria rolar mesmo. Se saída se der. Mas acho que se
dará. Nossa sem saco nenhum para nada, mas agora não me encontro de baixo
astral o que é um grande, enorme alívio. Por que será que estou tão oscilante.
Só quero crer que é pela neurose acerca de porra de livro. Tenho que tirar isso
da minha cabeça. Acho que vou todo de rosa para night. Com a minha sandália branca
do Mario. Não pensar na viagem. Será que a Garota da Noite irá? O que direi a
ela se for. Minha vontade é de não dizer nada. Hoje não senti tédio, senti
coisa pior. Isso me preocupa. Vou pegar mais Coca. A vontade é de fumar mais um
cigarro.
18h22. Peguei só Coca. Nossa, essa porra desse livro não sai
da minha cabeça. Embora agora reparta a audiência dos meus pensamentos com a
saída. Espero que mamãe me dê setenta. Vou pedir para o meu primo me trazer
duas carteiras de Marlboro quando vier. Eu não sei o que quero da vida. Eu sei,
queria estar com meu amigo da piscina conversando e escrevendo lá embaixo. Não
sei nem se isso eu queria. Acho que a ida para o Seu Vital vai ser válida.
Tomara que se dê. Esse texto está tão mal escrito. Não tem problema, pois
ninguém vai ler. Escrever para ninguém. Será que é isso que está pegando? Em
parte, é, eu percebo. Mas esse post não é para todos os olhos. Estou num astral
melhor, que continue assim. Não cair de novo na deprê. Daqui a pouco vou fumar
mais um cigarro. Daqui a vinte minutos. Penso em Aurora. Doce ilusão. A mais
doce e fantástica ilusão. Eu não tenho jeito mesmo. Mas não quero falar sobre
isso. Não quero falar mas preciso dizer porque não há mais nada que queira
fazer até a hora de ir para o Poço. Não sei nem chegar nesse Vital. Era bom que
a galera passasse aqui para me pegar, mas sei que não vai rolar porque é uma
contramão. Vou ter que descobrir sozinho mesmo. Só faltava a Garota Noite ir e
me dizer que adorou tudo o que mandei para ela. Seria curioso. A vontade que
tenho é dizer que cansei de desperdiçar minhas palavras com ela, que prefiro
desperdiçar comigo mesmo. Sei que isso seria rude. Mas não sinto nem vontade de
beijar-lhe a boca pois estou tomado de Aurora, do impossível que não se toca, é
intangível e prefiro assim. Tentei me masturbar ontem e não consegui, mesmo
assistindo xvideos simplesmente broxei. Não sei se por causa dos remédios. Ou
porque estou ficando broxa mesmo por causa dos cigarros. Não sei. Preciso
realizar outra tentativa, mas hoje não estou com a mínima vontade. Sexo para
mim não é uma necessidade, talvez depois da banalização do sexo haja um
movimento de repulsa ao sexo. Eu já fiz parte do grupo de assexuados, mas achei
que era um bando de gente deprê e carente e mal-amada. Exatamente o que sou,
mas não quis me inserir naquilo. Era um clima down e um tanto falso. Era como um bando de fracassados
afetivamente. Novamente exatamente o que sou. Mas não curti e saí. Não quero
ser abertamente assexuado. Até porque não fechei as portas para a sexualidade.
Só não é um assunto que me domina e que me motive. Manter esse astral que estou
agora, nem bom nem ruim. Levemente bom, está mais do que suficiente. Só não me
sentir deprê já é suficiente. Nossa, já estou na sexta página de Word, mas isso
não importa para esse post, vai para os capilares, então não preciso me
preocupar com o tamanho. Tomara que saia e que seja bom. Se não sair também não
será o fim do mundo. Mas será muito, muito chato ficar escrevendo até
meia-noite e ir dormir. O pior que não estou com astral nenhum de ir para a
Casa Astral amanhã. E o preço está salgado, trinta reais? É um pouco demais.
Mas, se meu primo-irmão for, acabarei indo, eu acho. Não quero pensar no
amanhã. Vou me focar no hoje. É melhor, me é mais agradável. Não sei se vou
querer sair amanhã tendo saído hoje. Estou fugindo do que me traz desconforto à
alma. Me sinto pisando em ovos comigo mesmo, andando na corda bamba. Qualquer
mínimo deslize e caio na deprê de novo. Só posso pensar que o negócio estava
batizado. Não é normal me sentir assim. É a única explicação cabível. Quando
der 19h00. Vou botar Coca e fumar um cigarro. Sete minutos para isso. O baixo
astral se deu depois que comi o pastel de nata, agora me lembro. Que coisa
esquisita. Estou ficando velho e cheio de cacoetes. Isso é patético. Nossa,
queria que meu tio desse a mamãe uma resposta positiva. Deixa essa porra para
lá. Não estou com cabeça para pensar no assunto. Não quero pensar sobre o
assunto. Não me faz bem pensar no assunto no momento. Acho que queria tirar um
cochilo, mas não queria ao mesmo tempo, pois posso não ouvir a mensagem do meu
primo-irmão. Três minutos para a Coca com cigarro. Eita, texto mais desleixado
e chato. Que seja, escrevo para ninguém, só para desopilar mesmo, para não cair
da corda bamba. Dois minutos. Queria que tudo desse certo na minha vida. Tudo
já deu certo, mas falta um pouquinho mais. Eu pensei que chegar até aqui já
estaria de bom tamanho, mas nunca está. Um minuto. Aurora está me assombrando
hoje. Como eu guardo mais precioso dos sentimentos por ela. Tão puro e sublime
que não encontra paralelo no real. Vou fumar. 19h00.
19h09. É muito bom tomar uma coquinha com um cigarro para
acompanhar. Estou sem saber o que dizer, na expectativa do meu primo-irmão se
manifestar. Estava ver fotos de Aurora. Delírio, perda de tempo, sonho maior do
mundo. Empatadinho com o sonho de ter as duas obras publicadas. Se a primeira
for publicada, a segunda eu banco. Se a primeira não interessar a ninguém, a
segunda, então nem se fala. Como o meu humor melhorou, estou espantado e não
quero fazer nada que o faça virar de novo. Estou tenso com essa possibilidade.
Não sei que é que se dá comigo. Pensar no livro agora não me desagrada, mas a
palavra livro assim posta me gera certo desagrado, a escrevi tanto ultimamente
que peguei abuso dela. Dela e de “obra”. Duas palavras que não tenho mínimo
saco de escrever, nem “projeto”. Aurora, por outro lado não me cansa. Curioso
isso e só pode ser amor. Platônico até a medula, mas amor mesmo assim. Acho que
é o tipo de amor que me cabe, platônico. Impossível, mas sempre desejado. É a
forma que desenvolvi de amar nesses calejados anos de solidão. Que seja, se me
contenta. Me deixa contente, me ilumina o espírito, que seja. E seja até o fim.
A Garota da Noite? Me desagrada por estar próxima demais da realidade. A
encararia com frieza caso a encontrasse. Pelo menos é assim que a coisa se
afigura dentro de mim. Queria até encontrá-la para ver no que iria dar. Minto
prefiro não cruzar com a figura. Se possível nunca mais. Talvez esteja
exagerando. Mas minha vida orbita em outra estrela por ora. Acho que sempre
orbitará. Sei lá. O futuro a Deus pertence, reitero. Senti um gosto margo na
boca, a boca está amargando que coisa estranha. Será que é uma indicação da morte?
É, parto logo para pensamentos catastróficos. O Hulk, a moça da fisioterapia
ainda não viu o meu Hulk. Gosto de reparti-lo com as pessoas, mas não ousarei
fazer isso hoje.
19h29. Estou contando com essa saída hoje, espero que role.
Se bem que nem espero muito. Mas seria bom, para dar uma saída desse marasmo,
ainda bem que não estou entediado (ainda) e meu astral está bom. Que permaneça
assim, com ou sem saída. Cada vez mais acho que as emoções tem uma correlação
grande com o que vai no estômago. O computador apitou, pode ser a boa notícia
que espero. Nada, era só a minha cunhada falando dos meus sobrinhos. É, esse
Seu Vital vai ser mais tarde do que o que esperava. Se for. Espero que meu
primo-irmão me dê ao menos uma satisfação. Diga se vai ou não vai. Eu estou
apoiando a minha realização pessoal em algo que não tem a mínima solidez. É uma
pena, acho que terei que viver coma frustração de não ser publicado. E hoje,
agora, isso não faz muita diferença para mim. Nada importa muito nesse momento,
estou satisfeito por existir e isso me basta. É muito pouco? Eu não acho.
Depois de sentir a insatisfação de viver que experimentei há pouco, essa
satisfação é mais do que suficiente. E sem tédio? Melhor ainda.
19h42. 1942 era o nome de um jogo de tiro de fliperama das
antrolas. Pois é, eu também sou cultura. Inútil. Hahaha. Se estou dando até
risadas textuais isso mostra um astral superior. Estou ficando com preguiça de
sair, mas se convocado, comparecerei. E de repente vá ouvindo Björk pelo
celular, caso tenha que ir caminhando até lá. Preciso cortar as unhas da mão.
Está muito escuro para fazê-lo e estou com preguiça. Acho um saco depender de
terceiros. Mas a minha na vida é muito comum se depender de terceiros. Não na
minha, mas na das demais pessoas. Estou na mão da incrível revisora, do meu
tio, do meu primo-irmão e me libertei das mãos de Raimundo Carrero sepultando
quaisquer possibilidades que tinha de ele me dar um feedback sobre a obra.
Tanto se me dá. Hoje estou na fase tanto faz como tanto fez. Hoje estou só
escrevendo e isso me parece o mais agradável a se fazer. Não quero sair desse
modo pois temo entrar no clima deprê de novo. Mas se meu primo der o ok, eu vou
para o Seu Vital. Se não der, tanto faz. Espero que ele se manifeste até as
20h30. Eu nem sei mais se quero ir. Eu não sei de nada. Sei que escrevo e
continuo escrevendo por absoluta falta de alternativa mais viável e
confortável. Estou bem no meu cantinho, teclando nesse teclado palavras que me vem
sem pretensão alguma que não seja preencher meu tempo de forma minimamente
produtiva.
19h56. Meu computador não carregou a página que eu queria
tanto ver. Que se dane. Hoje tanto faz. Mas que é estranho, é. Que seja
estranho. Tanto faz. Eu estou chutando paus de barraca hoje. Hahaha. Estou
quase me dizendo apaixonado por Aurora para quem de direito. Mas não farei essa
loucura. Não estou chutando tanto assim o pau da barraca. Pensar em chutar o
pau desta barraca específica me corta a alma, mas é o que terei que fazer se o
livro for ver a luz do dia. Não acredito que vá e para mim, agora, tanto faz,
estou vivendo o agora, não o futuro e agora eu estou muito bem com as minhas
palavras. Espero que continue assim. Queria ter mais quatro cigarros para fumar
hoje e acho que posso me dar esse luxo. Caso não saia, aí fumarei
desbragadamente. Mas estou quase achando que o programa miou. Se bem que meu
primo disse que tinha umas coisas para fazer antes. Talvez saia de chapéu hoje,
mais coroa. Faz tempo que não uso chapéu. Se bem que o chapéu não cabe na minha
cabeça direito. Eita, veio o desagradável pensamento na viagem, pois comprei
esse chapéu na Alemanha. Mudar de assunto. Aliás, o que tanto me intimida na
viagem? O translado, a obrigação de encontrar com o meu amigo corretor, a
interação com os da Alemanha e (talvez da Áustria) e os vizinhos. Passar por
Portugal me incomoda. Minha mãe e sua limitadíssima locomoção me incomoda. De
resto, nada mais me incomoda. Se eu tivesse um pedido só para fazer a Deus?
Aurora ser minha. Mas esse é o pedido mais impossível que eu poderia pedir. Por
isso mesmo é o que faria. Ele é mais impossível que a publicação do livro.
Ainda não perdi as esperanças quanto a isto. Mas confesso que o livro me traz
sentimentos ambíguos. É dar muito a cara à tapa. É constrangedor. Eu não sei e
hoje me dou o direito de não saber, hoje estou no modo tanto faz. Em não
ficando deprê, tanto faz, a vida veio hoje me relembrar o que mais precioso
tenho, não estar em depressão. Não há nada mais precioso e desejado que isso. O
resto tanto faz. Ter a curatela é muito importante também. Ter a minha mãe
também. E poder escrever. Já enumero várias coisas e nem mencionei Coca e
cigarro e internet. O resto tanto faz. O jantar também importa, pois a fome
começa a bater. Ainda bem que minha mãe tem um forno elétrico que a permite
cozinhar sem usar o racionado gás do prédio. 20h13. Vamos ver se meu primo vai
dar notícia de vida até as 20h30. Estou começando a duvidar. Tanto faz. Já
imagina qual o nome que darei a esse post, né? Aliás se alguém ler isso já leu
o título lá em cima. Vou colocá-lo e salvar.
20h18. Às 20h30 vou pegar mais Coca e fumar mais um cigarro.
Chegou um e-mail dizendo que a Red Sonja, o último boneco que comprarei na
vida, espero, chegará mais cedo, mas que eu não preciso fazer alterações na
forma de pagamento. A vontade que eu tenho é encomendar a Harley Quinn quando
acabar de pagar a Red Sonja, mas não o farei até que seja lançada em 2019.
Preciso ver a qualidade da pintura primeiro. Vou ver se fizeram o update das fotos da Red Sonja. Momento.
Ainda não. 20h22. Não sei como arrumo tanto nada para escrever, eu me
impressiono e sempre me impressionarei com essa minha capacidade. Hoje tenho a
alma tomada de Aurora, é até bom que pode ser que pegue um abuso do assunto, já
me sinto meio abusado, acho que não mais tocarei nele. Vou dar um mergulho no
Facebook.
20h35. Vi uma coisa medianamente interessante e outra
levemente engraçada. Realmente é um passatempo inofensivo, não fosse repleto de
idiotice. Vou pegar Coca e fumar. Como pensei, o meu primo não se manifestou
ainda.
21h03. Comi charque com macarrão. Nada do meu primo-irmão.
Estou com vontade de me deitar, mas resistirei. Estou condicionado a comer e
dormir, então me bate o sono. Estou cansado de escrever de ver internet, acho
que a saciedade (olha aí a correlação estômago-emoções) me deixa assim. Não
estou mais com disposição de sair. Não sei por que inventei de comer. Mas
estava com fome e ver o macarrão e a charque abriram ainda mais o apetite. Acho
que... fui olhar o Facebook, estou entediado. Acho que vou comer mais e dar
esse dia por vivido. Ir dormir. 21h22 e nada do meu primo, acho que não rola
mais. Ligar o ar.
21h50. Devidamente alimentado, volto aqui para despejar as
palavras finais. O que posso dizer. O sono passou não sei por que cargas
d’água. Duas novas visualizações do post que foi repartido com o meu tio e
Raimundo Carrero. Não sei quem os leu. E tanto faz. Minto, um sentimento
ambíguo me preenche. Esperança e medo. Que droga ter perdido o sono. Queria
tanto deitar e dormir. Mas não quero deitar e dormir no momento, não estou com
sono. É esperar a comida descansar no bucho. Podia tentar me masturbar, mas com
mamãe acordada acho incoerente. Ela pode vir aqui por ver a luz acesa e vai ser
muito chato. Ocorreu uma vez já, não quero que se repita. É muito
constrangedor.
22h03. Parece que voltei foi com fome redobrada de me dizer.
Espero que essa passe logo também. Meu primo ao que tudo indica desistiu ou
“esqueceu” de me comunicar.
22h11. Mandei uma mensagem para ele e me disse que tinha
decidido ir para o Arruda tomar umas geladas com um amigo. Sou irrelevante
mesmo. Nem para me avisar que não ia rolar. É a vida. E tanto faz. Não sei mais
o que poderia dizer, estou frustrado com o esquecimento do meu primo-irmão. Que
seja, é assim que percebo que vou perdendo a relevância para os que me são mais
caros. Tanto faz, é o que cavo para mim. Essa gruta que distancia o quarto-ilha
do resto do mundo. Vou beber mais uma Coca e fumar mais um cigarro.
22h25. Dei uma passada pelo meu outro projeto, o que pode se
tornar um segundo livro, se primeiro houver, o que para mim, no momento, tanto
faz. Para mim tendo a escrita e podendo pensar em Aurora, o resto tanto faz. A
droga do sono não vem. Espero que venha quando medicação começar a fazer
efeito. E se não vier, tanto faz também. Há de chegar em algum momento, nem que
seja por exaustão. Por enquanto, enquanto estou vivo e tenho este computador,
posso me dizer e continuarei o fazendo. Droga, preciso botar o líquido no
Vaporfi.
22h31. Coloquei. Que palavras a existência que se manifesta
através de mim quer colocar para o mundo? Colocar para si mesma. Um espelho de
frente para o outro. Estou sem muitas ideias na cabeça. A vida está agradável
de ser vivida por mais que extremamente estéril. Uma leve esperança de que meu
tio tenha lido a mensagem, que sejam deles as duas visualizações mexe comigo.
Seria bom ter o livro publicado, eu acho. Sei lá e, nesse exato momento, que é
tudo o que de fato tenho, tanto faz. É muito boa essa postura do tanto faz
quando se pode exercê-la tão plenamente como agora. Se fosse obrigado a ir no
supermercado nesse momento faria uma enorme diferença negativa para mim. Mas
nenhum compromisso vai me aparecer hoje, salvo alguma emergência, o que espero
de todo coração que não ocorra. Quero ficar nesse gostoso tanto faz. Tanto faz
se eu morrer. Tanto faz porque nada importa e quem me importa me é intangível,
então tanto faz. Se bem que não quero morrer ainda, há uma pulsão de vida em
mim, não estou deprimido, não estou como eu estava, foi um momento, graças,
passageiro. Mas foi ruim. Suspeitei de depressão como devo ter ventado aqui. É
um estado de espírito muito ruim. Mas agora que tomei os meus remédios
dificilmente me sentirei mal por ora. Até acordar amanhã. Tomara que mamãe siga
a tradição que vem cultivando e faça uma jarra de café para mim amanhã. Seria
uma ótima forma de começar o dia. Cigarro e café. Talvez meu primo queira ir
amanhã para a Casa Astral. Eu não sei se vou. Não estou com a mínima disposição
de ir. Estou meio saturado de lá que o bróder que me convidou não me leia,
gosto muito dele e do pessoal da Casa e Tudo o mais, mas é um ambiente
desafiante demais para mim no momento. Pode ser que amanhã tudo mude, mas não
vejo meu primo-irmão indo para lá. Ainda mais a 30 reais o ingresso. Meu pé
está dormente da posição em que estava. Já está passando, passa rápido. Estou
completamente flácido e sedentário. E tanto faz. Em verdade queria magicamente
estar com um corpo sarado, mas não existe esse truque, é preciso fechar a boca
e malhar. Eu fecho a boca o máximo que posso. Malhar é algo que eu tenho
aversão. Não consigo entender como se submetem a isso. É amor próprio demais
para mim. Não gosto tanto assim da minha pessoa para me submeter a essa tortura
física cotidiana. Simplesmente não aguento, meu preparo físico é zero. Acho que
o sono começa a me bater. Que bom. Não acho que revisarei este post.
Deixá-lo-ei cru como está. Não faz diferença. Ninguém vai ler. O que importa é
que estou em paz, isso é o mais importante, não estou deprê. Estar em paz é
muito bom. Estou pensando em comer ainda um iogurte se iogurte ainda houver.
Não, não vou comer, acho que só saio do quarto-ilha amanhã. Se bem que resta um
pouco de Coca e estou com toda a intenção de tomá-lo. O que posso fazer com as
minhas palavras, relegadas que estão à obscuridade? Dizê-las, é o que tenho, é
o que me faz sentir mais vivo, é o que dá razão à minha existência. Isso e a
espera do que não virá. Ou virá, sei lá. A esperança em mim é difícil de
sepultar. Só quando todas as portas se fecharem é que se encerrarão as minhas
esperanças. O sono vem se aninhando no meu juízo. Não durarei mais do que
meia-hora. Não quero. Já disse demais por mais que muito pouco se aproveite,
menos pessoas ainda porão os olhos nisso. É um grande desperdício de palavras,
mas é um prazer dizê-las, meu foco deve residir aí. O resto, tanto faz. Meus
átomos de carbono magistralmente organizados em um ser da minha espécie querem
dessa forma, quem sou eu para desobedecer a minha própria natureza? Eu sou uma
força da natureza, ínfima que seja. Haverá um dia em que não serei. Não queria
enfrentar a morte da minha mãe. Será muito triste para mim, vai ser das
orfandades mais doídas. Jamais superarei eu creio, me verei perdido, sem chão,
largado no mundo. Não queria passar depois dela. Mas não queria que ela
sofresse meu luto tampouco. Acho que vou deitar, não há por que lutar contra o
sono. Amanhã passarei o dia fazendo a mesmíssima coisa. Boa noite, Aurora, meu
eterno amor é seu.
-x-x-x-x-
12h17. Acordo com a minha paixão por Aurora bastante
diminuída pelas brumas de Morfeu que ainda me circundam. Estou com dificuldade
de digitar. Acho que vou pegar mais um café e fumar mais um cigarro. Espero que
a deprê não me ataque hoje. Com café é mais difícil.
12h30. Estou de volta e vou continuar nesse post que não
carece de revisão porque ninguém vai ler. Meu padrasto chega. Isso me deixa um
pouco mais tenso, mas já-já me aclimato à nova realidade. Se há uma pessoa que
não me incomoda no meu quarto-ilha é o meu padrasto, a não ser que haja assunto
de real relevância o que se dá muito pouco, graças. E mesmo assim bate antes de
entrar. Dormi uma noite bem dormida e sei que sonhei, só não sei com o quê, mas
tenho convicção de que sonhei. Não sei como tenho essa certeza se não me lembro
de nada, mas há um indício, um resquício de memória de que algo foi sonhado.
Uma sensação de algo foi sonhado. E dizem que todos sonhamos mesmo que não nos
lembremos, então eis aí a prova de que sonhei. O remédio me impede de lembrar
dos meus sonhos. Não sei se isso vem para o bem ou para o mal, não sei se teria
mais pesadelos que sonhos bons. O último que me lembrei começou bem e descambou
para o pesadelo, como meu finado pai me agredindo a face a murros por causa de
um suposto papelote de cocaína atribuído a minha pessoa que não era. Nem
cocaína, nem meu.
12h42. Minha mãe disse que eu deveria ouvir mais música
brasileira. Acho que dentro em breve eu vou colocar a lista 6 para tocar e
ligar o ar agora, pois estou com calor. Quando penso no que quero dizer o
primeiro assunto que me pipoca à cabeça é livro. Mas nada tenho a acrescentar
sobre isso. Só que meu tio ainda não leu o WhatsApp mandado por mamãe. Por
conseguinte, não leu ainda o meu post do Profeta em que discorro da importância
da publicação para mim. Quer ler? Eis o link, clique aqui.
12h46. O café está uma delícia, mais forte e encorpado que
de costume. Obrigado, mãe. Minha mãe nunca vai ler isso. Não que haja aqui algo
que ela não possa ler, simplesmente não vai haver como ela, com os parcos
conhecimentos que tem, achar este post. E pode ser que descambe para algo mais
secreto e vá acabar no Vate, aí nem que quisesse poderia acessar, pois o Vate é
um blog privativo ao qual só eu tenho acesso. A verdade é que na minha vida só
tenho as palavras ou só quero ter as palavras. Essa segunda afirmação me
incomoda e assusta, mas não me vem como grande revelação. Sei que tenho
videogames para jogar e filmes para ver. E livros para ler. Mas nada me apetece
mais o tanto quanto escrever. Não sei a causa disso, só não quero que acabe
nunca. As palavras são a minha vida, a vida que há ao redor delas cada vez me
interessa menos. Isso é doentio, também acho, mas é como uma febre que me faz
querer ficar aqui a me dizer. Lógico que quando aparece um programa bacana, eu
vou. Mas cada vez menos programas me parecem bacanas. Hoje não estou com saco de
sair. Pode ser que isso mude. Mas, para mim tanto faz. Gostaria de ter coragem
de aparecer na Vila Edna amanhã. Mas perdi essa coragem nalguma curva do
caminho. Tenho vergonha de encontrar com as pessoas de lá sendo quem eu sou
hoje. Tenho vergonha de desfilar em público o ser miserável que sou. Miserável
de alma que é a pior das misérias, acho eu. Pois essa não há programa social
que sane. Vivo com o máximo de conforto que a sociedade capitalista moderna
pode oferecer e até um pouco mais, afinal tenho um busto em tamanho real do
Hulk no meu quarto, o que é um item para lá de supérfluo para alguém diferente
de mim, ou seja, para qualquer pessoa. Lembro agora que sonhei que uma boneca
vinha mal pintada! Era uma Mulher-Maravilha, eu acho. Vou pegar mais um pouco
de café.
13h06. Minha mãe ia me pedir algo, mas elogiei o café e ela
esqueceu. Está assim agora. E nem quis lembrá-la do que iria me pedir ser
miserável que sou. Mas se fosse algo realmente importante haveria de se lembrar
ou assim quero crer. Meu amigo redator me mandou uma mensagem, uma piada. Uma
foto de uma mulher gostosa de biquíni fio dental e uma voz dizendo algo como,
“desculpa aí, mandei para a pessoa errada, sei que você não gosta disso”.
Realmente uma mulher como aquela me intimidaria e me desencantaria por ser tão
vulgar, ademais tenho o pau pequeno para tanta bunda. Estou gostando de viver
hoje e isso é bom demais. Não preciso de mais do que isso, realmente o rápido
mergulho na depressão me fez o que realmente importa, não estar deprimido, está
em paz. O livro importa menos do que isso. Talvez até Aurora importe menos.
Embora ache que os dois sejam passaportes para uma existência superior, mais
interessante e recompensadora. Não preciso disso, preciso ser e estar bem
apenas. E não ser atacado pelo tédio, o que já seria me sentir mal. Eu amo a
minha mãe. Demorou quase 40 anos para chegar a isso, à consolidação desse amor,
mas chegou, enfim. Que bom. Que ótimo. Talvez a maior parte do esforço tenha
sido dela. Se bem que minha luta contra as drogas não foi fácil. As internações
não foram fáceis. Acho que nós dois fizemos esforços semelhantes de naturezas
completamente diferentes, para chegarmos à relação que temos hoje. Se valeu a
pena? Valeu. Sem dúvida. Acho que o meu carma com a minha mãe foi quitado,
falando em termos espirituais, que não acredito. Acredito na vida que temos
aqui como a única, então foi bom termos encontrado a paz no nosso
relacionamento em vida, pois no momento em que um partir não haveria mais
chance de reparação. Sei que mamãe estranha os meus carinhos, tanto quanto
estranho os dela. Mas aos poucos acho que vá se acostumando. Queria ir sacar
dinheiro hoje, mas acho que essa oportunidade não se dará, porque não tenho
justificativa para sair de casa e não quero que mamãe saiba que tenho essa
fonte de renda. Acesso a esse dinheiro. Pois ele será convertido em sua maioria
em maconha, única droga da qual não me abstive. Não sei se foi a ausência dela
no meu organismo que me causou a crise depressiva de ontem e dos últimos três dias.
A não ser que a maconha prensada que meu amigo pegou fosse batizada com crack.
Tudo é possível. Mas se estou bem sem maconha, que continue assim. Preciso
fazer as letrinhas correrem agora para que mamãe não me pegue discorrendo sobre
esses ilícitos. Não sei se Seu Raimundo leu o meu e-mail nem o meu blog. Acho
que não. Acho que sim. Acho que talvez. E se o fez, tenho absoluta certeza de
que não mais me responderá. Que seja. Faz uma diferença enorme, mas agora,
estou em clima de tanto faz. Tanto faz, está nas mãos do acaso-destino. O que
poderia fazer já fiz. Só me resta agora esperar. E espero mais tranquilo
sabendo que fiz o meu máximo. Ainda falta dar o meu máximo na revisão. E aí
mandar para o meu tio e torcer que ele tenha colhões para mandar para as
editoras. Com a sua indicação é quase certo eu ser pelo menos lido e avaliado
pelas editoras. Sem ele, acho que luto uma luta em vão. Veremos. Tudo a seu
tempo. Acho que a revisão não chega antes que eu viaje, então tudo fica
postergado para agosto ou setembro. Estou gostando desse texto que estou
fazendo sem pretensão de ser lido. É praticamente um do Desabafos do Vate.
Aliás é exatamente um post do Desabafos do Vate que postarei em algum lugar
público que ninguém acessa. Me sinto seguro que mamãe não acessará, porque nem
sabe da existência dos blogs capilares. E se sabe nem entende o que quero dizer
com isso. Estou com vontade de pegar mais café. É uma pena só ter mais sete
cigarros e tantas horas de vigília pela frente.
13h42. Peguei mais café, a penúltima xícara. Acho que vou
colocar a lista 6, inspirado pela sugestão de mamãe de ouvi mais coisas
brasileiras. Nela tem o “Vem” de Mallu Magalhães. E tem “Cantada (Depois de Ter
Você)” de Adriana Calcanhotto, música tema da Garota da Noite. Nesta lista há
as músicas tema de Clementine e Aurora também. Engraçado eu eleger músicas tema
para as minhas paixões platônicas. Embora a Garota da Noite não merecesse essa
música.
13h51. Me perdi no YouTube. Olha o que cheguei a gravar para
a Garota da Noite.
13h52. Já começou a passa Faith No More na lista 6. O modo
aleatório gosta muito de Faith No More. Hahaha. Também há dois discos inteiros
da banda na lista.
13h55. Outra do Faith No More. Não estou dizendo? Gosto da
banda, mas não era exatamente a vibe
que buscava quando coloquei a lista 6 para tocar. Mas gosto, não ofende. E acho
dos dois discos excelentes. O primeiro e o segundo de estúdio da banda. O que
poderia mais dizer da vida? Nasci em Campinas, São Paulo, terra de Sandy e
Junior. Cheguei ainda estudar no mesmo colégio onde estudaram. Depois vim para
Recife, depois me mudei para São Paulo capital e depois voltei a Recife, onde
resido até hoje. E onde, hoje, sou curatelado com sonho de ser considerado
escritor. Mas olhando em retrospecto esse sonho me parece ridículo. Eu sou uma
pessoa ridícula, mas não estou no astral de me diminuir hoje quero ficar do
mesmo tamanho que acordei. Em paz comigo e com a vida. Esse é o tamanho ideal,
curtindo friozinho do ar condicionado. Agora ouvindo The Cure, sempre muito
bem-vindo, uma banda definidora do meu caráter, que me ajudou a me tornar um
amante sonhador. Se Robert Smith soubesse quão fundamental foi para a formação
do meu caráter certamente ficaria impressionado. E em como isso pôde dar tão
errado. Hahaha. Acho que se sentiria culpado, então é melhor que não saiba.
Agora passa Rufus Wainwright, uma das mais fraquinhas dele.
14h16. Me perdi pelo Facebook felicitando os três
aniversariantes de hoje e assinando uma petição, que não vou compartilhar
porque não achei realmente muito relevante. A aparência que me deu é que a
mulher quer mais imortalizar o nome do filho do que aprovar a lei ou quer nos
dois na mesma quantidade. Pois a lei tem o nome do filho.
14h22. Puxa ter uma música pesada do Faith No More ser
seguida por uma linda melodia com Ella Fitzgerald e Louis Armstrong é uma
mudança no mínimo radical, “A Foggy Day”. Quando der 15h00 eu vou fumar outro
cigarro. Assinei outra petição e compartilhei mais uma. Quando se trata de
trabalho escravo eu sempre reparto. Acho uma aberração que ainda haja esse tipo
de abuso na sociedade moderna. Putz, Faith No More de novo, vou pular. Foi para
outra de FNM, esse modo aleatório realmente gosta da banda. O bom é que cada
música é uma a menos da banda para tocar. Eu gosto dessa, foi a do primeiro
clipe de “Angel Dust”, “Midlife Crisis”.
14h32. Vi o número mudando de 31 para 32, raramente vejo tal
fenômeno se dando. Essa foi a informação mais inútil até agora, creio. Hahaha.
Olha a minha próxima cantada (como se tivesse coragem).
14h37. Fui pegar o resto de café que havia e mamãe havia
feito um risoto de peito de frango que em nada me apeteceu, coitada da véia,
achando que eu iria dar uma chance ao prato e me recusei porque não estou com
fome alguma. Às 14h39 passa a primeira de Mallu Magalhães. Mallu agora me
lembra Aurora. Acho a combinação perfeita. Ela aparentemente adorou o CD do
“Vem” que dei à mãe. Amei essa notícia porque, bem, amo. Ainda bem que isso vai
para um blog capilar, com a frase anterior revelo a identidade da minha paixão
platônica sem deixar margem para dúvidas. Estou brincando com o perigo. Mas o
livro também revela a sua identidade. Por isso tenho que revelar dessa paixão
platônica para quem de direito antes de o livro ser publicado, no caso de ele
ser mesmo publicado. O que ainda está longe de ser uma concretude. Acho que não
vai acabar de ser revisado antes de eu viajar. O que vai ser uma pena.
14h47. Meu primo compartilha um programa de índio para mim
no grupo da turma. Pelo visto ficarei em casa nesse final de semana. Como as
pessoas gostam de fofocar, me lembrei de um episódio aqui, de uma fofoca. Fico
a cismar o que dizem de mim. Deve ser cada coisa ozzy. Ainda bem que não estou
presente para saber e não me dizem na cara. Então fica tudo no campo da
imaginação. Parece ser o campo em que mais jogo este. Quero ver se meu amigo
redator vai ter gasolina para ir ao lançamento do livro da nossa amiga na terça
que vem. Tomara que sim. Agora me lembrei porque estou escrevendo para um blog
capilar, porque quero dar tempo para Seu Raimundo ler o post que está como o
primeiro do blog. Isso já me parece tão distante, Seu Raimundo e o post. Mas queria
muito que ele lesse e, mais ainda, que me respondesse. Não ocorrerá. Senão já
teria ocorrido. Mas deixarei para publicar no Profeta só na segunda. Depois da
terapia, se terapia houver. 14h57. Três minutos para eu abrir a Coca e fumar
meu próximo cigarro. Fiquei na dúvida se hoje era sexta ou sábado, coisa de
quem tem todo o tempo do mundo, esse luxo que poucas pessoas do mundo têm. Esse
luxo que nem os mais ricos dispõem. Eu sou riquíssimo do bem mais precioso da
vida. Eita, música do caralho, “Hawkmoon 269”. Até aumentei o som. U2. “Rattle
And Hum”. O som da bateria dessa música é épico. Eu acho que magoei minha mãe
agora quando disse que não gostava de molho branco e me neguei a comer o que
ela teve um trabalhão para fazer. Estou com o coração apertado por causa disso.
15h03. Vou fumar e tomar uma Coca.
15h05. Eles ainda estão na cozinha. Ainda poderia reverter e
experimentar um pouco do risoto. Acho que vou fazer isso. E depois, cigarro e
Coca.
15h16. Fiz tudo que me propus. Alegrei a minha mãe e fumei o
meu cigarrinho. O modo aleatório entrou na fase U2, o que acho ótimo. “Red Hill Mining Town”. Agora
com “A Sort Of Homecoming” ao vivo. Outra que adoro da banda irlandesa. A Coca
gelada esfria o meu corpo e não preciso de ar condicionado, então o desliguei.
É libertador escrever para ninguém. Não me preocupo com muita coisa, não me
preocupo se o conteúdo é fútil ou não. Mas me incomoda um pouco pensar que
ficarei fazendo isso até dormir. Mas se continuar gostando de estar aqui, que
seja. Eita, Mallu, essa vai eu vou botar no meu projeto paralelo, “Love You”.
15h25. Vários pensamentos me passaram pela cabeça e o único
que ficou foi nossos dois polegares sobrepostos. Eu não sei. Sei lá. Quem me
dera. Mas não vai se dar. Faith No More de novo. Não me incomoda. Não deveria
ter comido. Esse peso na barriga a essa hora não me faz bem. Mas não chego a
estar deprê. Não foi como ontem. Ontem foi mais pesado. Continuo em paz, tendo
por parâmetro o que senti ontem.
15h36. Meu primo me chamou para algo que lembra o carnaval
de Olinda, estou fora. Não gosto de aglomerações concentradas de gente. Não
preciso mais me passar por isso para achar que estou vivendo a vida. Pelo
contrário, acho um atraso claustrofóbico de vida. E ainda dizem para levar
“doleiras” o que significa que a possibilidade de ser furtado é comprovada. A
comida – só posso crer que foi ela – me deu um desânimo. Mas fiz minha mãe
feliz. Vou pegar mais Coca e botar umas caçambas para gelar.
15h45. A Coca que peguei me reanimou um pouco mais. Mas o
prospecto de passar o dia de hoje escrevendo não me é muito alentador. Mas se é
o que me cabe, que seja. Não vou para Olinda me embrenhar num mar de gente.
Isso é o oposto do que considero um programa interessante. Preferiria muito
mais o espetinho no Arruda de ontem. Sentar e conversar. Por mais que tenha
perdido o hábito da conversação. Mas acredito que com um pouco de prática... na
verdade não acredito nisso. Só a projeção de envolver em conversações me põe
ansioso. Não sei o que se dá comigo. Aliás, sei. É passar tanto tempo enfurnado
comigo mesmo a me dizer. Desaprendi a conversar com os demais e aprendi a
conversar comigo. Estou com vontade de fumar outro cigarro. Vontade dá e passa.
Meu padrasto está na sala e não admitiria, eu creio, que eu enchesse as
caçambas com água da torneira como é de meu costume, por ser mais rápido e
prático. Há pouquíssimo gelo na geladeira. Isso me preocupa, mas não muito. Já
tomei muita Coca quente na casa da minha tia-mãe. Acho que vou pegar mais Coca
e fumar um cigarro, eu mereço me dar esse luxo, por mais que vá ter que me
segurar mais adiante. Melhor esperar até as 16h30. Parece uma eternidade essa
meia-hora que me separa do próximo cigarro. E preciso cortar as minhas unhas
enquanto há claridade. Mas estou empulhado de passar pela frente da TV que meu
padrasto assiste para chegar à varanda. Não devia ter esses pudores com ele.
Mas tenho, é fato. Vou fumar um cigarro com Coca e só fumo próximo de 17h30. Eita,
Começou “It’s In Our Hands” de Björk, amo muito. O Jornal do Profeta é uma
empreitada tão inútil, tão medíocre que me sinto insultado por mim mesmo de
tê-lo como o principal produto da minha vida. É ultrajante. Nos meus sonhos
mais audaciosos, o livro seria um sucesso e traria o endereço do blog em
destaque o que isso geraria uma série de seguidores. Mas isso é devaneio. Minha
vida é um desperdício de existência e não há nada que queira fazer dela que não
isso. Eu não sei o que fazer dela além disso, eu só consigo me sinto disposto a
fazer isso. Nada mais me agrada ou apetece. A não ser fumar o cigarro e colocar
Coca. Ficarei com cinco até amanhã quando acordar. Queria ter mais. Mas não
tenho e não tenho como conseguir. Se eu tivesse motivo para sair, compraria
cigarro, mas ir para o furdunço de um bloco carnavalesco não dá para mim.
16h22. Enchi seis caçambas com água da torneira mesmo, fumei
o meu cigarro e acho que vou para a piscina hoje escrever. Aproveito e compro
mais uma carteira de cigarro e saco dinheiro. Se dinheiro houver nas máquinas
do Bompreço. Acho que é o que farei. Não sei. Detesto ter que fazer coisas
escondidas da minha mãe. Mas não há outra alternativa. Ela não sai de casa por
causa do joelho e porque o carro está sem gasolina. O som deu uma pausa no
Faith No More. O que mais posso dizer? A tardinha cai. O barquinho continua
encalhado. Nossa, que existência medíocre. A ida à piscina e esse passeio até o
Bompreço me farão bem. É isso.
16h31. Meu primo-irmão sugeriu irmos para a Casa Astral, se
ele realmente se decidir por isso, eu saio hoje. Embora esteja meio cansado de
lá. Mas é outra oportunidade de comprar cigarro e sacar dinheiro. Embora esteja
mais inclinado pela piscina. Vou cortar a unha na varanda.
16h40. Pedi para meu primo se decidir até as 18h00 para que,
se não for à Casa Astral, eu ainda possa descer para a piscina para escrever.
16h45. Meu amigo redator me chamou para ir para o Relaxe o
Bigode. Programa que acho muito mais agradável que ir para a Casa Astral.
16h50. Confirmei com o meu amigo redator e comuniquei ao meu
primo-irmão. Espero que ele não se incomode. O convidei a ir também. Ele, meu
primo-irmão, vai considerar. Melhor do que esperado. Obrigado existência. “It’s
Not Up To You” do “Vespertine” de Björk. É muito bem produzido esse álbum,
nunca tinha reparado. Agora é esperar a minha mãe acordar, comunicar-lhe, pedir
a grana e de 19h25 sair, para dar tempo de ir no Bompreço e comprar cigarros.
Espero que o Bompreço tenha grana. E que meu cartão funcione e consiga sacar.
17h00. Estou com um astral bom para essa noite. Vai ser o
bicho. Mansa, tranquila e favorável. Não sei o que dizer mais no momento.
Preciso fazer xixi e, como terei cigarros hoje, vou fumar mais um.
17h14. Chuva. Só faltava essa. Que hora inadequada. Se bem
que passando até lá está de ótimo tamanho. Fui no banheiro o que não importa
muito para humanidade outra que não a minha. E recomecei a ler a entrevista com
Bono na Rolling Stone que comprei quando da minha volta dos EUA no início desse
ano. Já estou com vontade de fumar outro cigarro. Mas segurarei a minha onda,
não vou contar com o ovo na cloaca da galinha. Toda vez que fiz isso, me dei
mal. De uma forma ou de outra se saída não houver, desço para escrever na
piscina. É bom escrever com o intuito apenas de desopilar, sem pensar em
leitores. O Spotify entrou no modo Marcelo Camelo.
17h26. Eu quero que Raimundo Carrero se dane. Na verdade,
queria que ele me respondesse algo, mas vejo que ele não vai fazer isso, então
que se dane. Faz uma enorme diferença não ter o seu aval e tanto faz. Estou
satisfeito com a vida hoje e não quero que nada me roube dessa condição. Nem o
silêncio do escritor. Que se cale. Que a minha voz seja ouvida. Temo as
impressões que a minha amiga revisora terá a respeito da obra. Pode ser que não
ache literariamente válida. Aí vai complicar para mim, não saberia o que fazer
diante dessa realidade. O que seria literariamente válido? Não sei. Me
interessaria muito saber. Mas não acho que incrível revisora vá ser tão dura
comigo. Se for, será a prova de que minha obra não merece ser publicada. E
agora, isso tanto faz. Vou contar com o ovo na cloaca da galinha e fumar mais
um cigarro dentro em breve. Estou um tanto agitado. Ansioso de uma ansiedade
boa. A noite promete ser legal. Espero que alcance todos os meus objetivos. Não
são impossíveis. Só não chover quando eu for. Estou sem conteúdo para escrever,
já-já finalizarei o meu post. E quando voltar, se houver o que narrar,
escreverei já para o Profeta. Eu acho. Estou meio abusado do Profeta. Estou
meio abusado da vida que levo. O Profeta como é o centro dela é o que mais me
abusa. Já vou em dezesseis páginas. É certo que ninguém vai ler isso. O que
acho ótimo, pois me revelo demais aqui. Se bem que estou na fase do tanto faz.
Se toda a minha verdade for revelada tanto faz. Só há duas coisas que são
segredo em minha vida. Ou que minha mãe desconhece. Aliás, três. Quero que
continuem assim. Eu preciso ter algum segredo para sentir que tenho
privacidade. Escreverei até a hora de me aprontar para sair. Eu poderia levar o
meu computador para o bar para fazer hora lá, mas meu amigo redator acharia
bastante estranho. Mas qualquer dia desses eu poderia ir lá sozinho só para dar
uma variada e ficar tomando uma Coca e escrevendo. Vou tomar mais uma Coca com
cigarro. E acender a luz do quarto.
18h04. Fumei, tomei Coca e guardei a louça da máquina. Estou
ansioso por ir. E lá no bar parece que tem Wi-Fi, eu poderia realmente ir para
lá sozinho. Escrever lá. Seria estranho, mas em dando dinheiro para o bar, acho
que não me repreenderiam. As horas quando é momento de espera se arrastam. Mas
as preencherei com palavras. Será que meu tio fará por mim o que espero dele?
Isso não “tanto faz”. Isso faz enorme diferença. E acho que ele vai amarelar.
Ficarei profundamente decepcionado com ele. Mas vamos dar tempo ao tempo,
chegará a hora em que terei o livro em sua forma definitiva e será o momento do
vamos ver se o acaso-destino na forma do meu tio intercederá em meu favor.
Senão é sair mandando para as editoras. E torcer, pois nada mais me restará a
fazer. E assim, acaba-se a vida de um livro antes mesmo de ela se materializar.
Queria ser meio Vinícius de Moraes, feio e barrigudo eu já sou, só falta saber
cantar a alma feminina. A paixão. Se bem que não quero isso, quero uma pessoa
específica. E só. Somente tudo isso. Se eu trocaria tê-la pela publicação do
meu livro? É uma escolha dificílima para mim.
18h32. O que eu mais queria? Agora? Aurora. Mas agora não é
tempo de Aurora. Esse tempo demorará muito a chegar, talvez eu nem esteja aqui.
Com a vida que levo. De 18h50 eu vou fumar um cigarro e entro no banho para ir
fazer o que tenho que fazer. A ansiedade me toma. Mas não é uma ansiedade ruim.
O tempo agora parece se encolher. Passar rápido demais. Eu não sei por que
tanta ansiedade. Ah, lembrei porque tenho uma vida modorrenta e estéril e
qualquer mínima variação no meu cotidiano me gera ansiedade para o bem ou para
o mal. Mão sei se leve o meu copo rosa, acho que não.
18h54. Eita me esqueci da hora no infindável Facebook. Vou
fumar o cigarro e tomar banho. Inté.

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