Tuesday, March 13, 2018

A MAIS RIDÍCULA CARTA DE AMOR


Como todos os caminhos levam ao nada, percorrerei o que acho mais interessante. E ele, neste exato momento, às 23h34, de uma segunda à noite, me leva a você. Chuva de estrelas cadentes, já viu? Eu vi ao amanhecer da minha varanda e, confie em mim, é algo único e belo. Exato, pensei em você. Acho que você deve ser uma pessoa realizada profissionalmente, embora pudesse ser melhor remunerada, mas que se sente contribuindo, fazendo a sua parcela pelo bem social. E exercendo uma profissão que, se não ama, gosta muito e que, pelo que entendi, reúne um grupo de amigas que se dão muito bem, então o ambiente de trabalho flui gostoso e ainda há o trabalho no hospital que você nunca chegou a me dizer qual era porque um amigo de verdade seu lhe chamou a atenção e você me desprezou completamente, mas que julgo envolver arteterapia, pois sei que você fez psicologia e há a palavra “arte” no seu perfil de Facebook e há a Encontrarte. Em suma, profissionalmente, você é uma mulher realizada. E eu preciso lhe confessar uma coisa, eu fumei um terço de um baseado, o terço final. E estou na paranoia do meu padrasto estar na paranoia comigo. Espero que não. Mas o que queria dizer com isso é que estou doidão. Achei que o meu texto seria mais peculiar assim. E realmente está, está parecendo que eu sou um stalker ou alguma coisa assim. Hahaha. Sua vida sexual deve ser plenamente satisfeita porque você arruma sexo com homens bem-apessoados na hora em que quiser. Puxa acho isso tão perigoso, se for assim mesmo como imagino, ou seja, algumas vezes com desconhecidos que encontrou e ficou na noite. Assim me parece uma roleta-russa. Mas se essas são as regras do jogo agora, eu as renego. Renego para mim, digo. Não as pratico. Coisa minha, anacrônica. Estou ficando velho, quarentão. Certas coisas novas já me causam estranheza. Não tenho nada contra. Toda forma de amor vale a pena, toda forma de amor vale amar. Acho apenas que, dos vários sentimentos e sensações que nos trazem bem e mal-estar, a última coisa que experimentam é amor. Amor é um negócio todo outro, é algo que vem depois da paixão. Adoro paixão, esse passageiro e eufórico vício de um pelo outro, onde inclusive a vida é mais sexualmente ativa. Pelo menos assim se deu comigo. Embora com a segunda namorada, aos dezoito anos, não sei bem, passamos seis anos juntos, meu recorde, pelo que eu me recorde, desde que perdemos a virgindade juntos e apaixonados, como eu sempre sonhei que fosse, tive uma vida sexualmente ativa o tempo todo, mas com a minha ex e minha melhor amiga, espero que um dia a conheça, é uma figura com poucas papas nas línguas, embora estejamos mais distantes e acho que isso é um movimento dela que eu tenho que respeitar, ela está com um cara muito bacana, vivendo um ótimo momento na carreira, ela construiu uma vida para ela que independe de mim e que toma muito do seu tempo, sei lá, faz tempo que a gente não se vê, mas, como ia dizendo antes de seguir por outra rota, com ela, ao contrário da segunda namorada, o sexo diminuiu com o fim da paixão. E isso não importava para nós porque a companhia do outro bastava. As conversas, as partidas de dominó, a certeza de que eu a encontraria em casa ou a certeza de que ela voltaria, era tudo muito bom. Vê-la dormir, totalmente inocente do mundo, era muito belo. Assistir um filme, fazer compras e, principalmente vê-la tomando banho. Acho que é um fetiche meu, acho a coisa mais linda e delicada e bela do mundo uma mulher tomando banho, pode ser banho apressado, demorado, ver a mulher amada tomando banho é um momento de intimidade sublime. Eu tinha esse tipo de intimidade com a minha ex. É no tipo de relacionamento que construímos que projeto um futuro relacionamento. Nesses moldes. Saíamos para tomar uma cerveja também com uns amigos dela. Eu posso sair na night com você, mas muitas vezes eu acho que preferirei ficar em casa, na minha casa, digo. Ou que comece saindo sempre e isso vá escasseando. É o que imagino, pode não ser verdade. Para dizer a verdade, da mesma forma que anseio por começar um relacionamento com você – essa é uma pretensão minha que já deixei clara anteriormente, eu espero –, eu tenho medo. Medo de sair do meu pequeno estranho reino. De ter uma pessoa na minha vida. Uma pessoa rara como uma chuva de estrelas cadentes. A mudança que isso traria. Será que optaríamos por uma relação aberta? O que isso significaria? Para mim significaria que nós dois poderíamos nos satisfazer sexualmente com terceiros, algo que você poderia praticar, mas que eu não praticaria por pura falta de interesse. Me interessa mais você dormir comigo que eu seja seu companheiro, cúmplice, nossa intimidade seja profunda. E que namoremos. O que quero dizer é que se você quiser uma relação aberta, eu aceito. Esse texto está muito doido. É muito bom escrever doidão. Será que vou mandar isso para, você, garota da noite? Eu sei lá, mas vou continuar a conversar contigo. Eu não sei por que você. Mas toda vez que projeto uma namorada me vem você. Comentei até na terapia. Desse fato e que eu só via razão para isso acontecer porque você foi a única garota que me encantou do meu círculo social embora você esteja talvez num subgrupo com o qual eu não interaja muito, sei lá, espero que não esteja fugindo de mim. Eu não mordo e eu já me resignei que eu nunca vou ter você, principalmente depois de um texto como esse. Por que resolvi escrever a carta nessa condição? Ah, porque pelo menos alguém ouviria essa voz que também trago dentro de mim e por que não fazê-lo para você? E também porque eu estava sem ideia do que escrever para você e com maconha sempre tem assunto, mas é preciso uma boa cara de pau para repartir um isso.

0h40. Fui pegar um copo de Coca. Estou ouvindo “Utopia” de Björk, se quiser entrar no clima musical da carta coloca aí. É uma viagem. Eu curto. Minha mãe detesta. O que posso falar de mim? Não sei, eu escrevo compulsivamente. É o que mais gosto de fazer na vida. É estar no meu quarto-ilha ladeado pela minha plateia cativa composta por Homem-Aranha Simbionte, Rei Ayanami, o Coisa e Hulk, com Coca-Cola com muito gelo ou uma xícara de café e o cigarro eletrônico, obviamente meu computador, agora com o ar ligado, antes, durante a tarde, com a janela aberta. É o meu pequeno reino. E sim, eu coleciono bonecos de alto nível. Mas estou terminando de pagar a minha última compra, já tenho bonecos até demais. Que bonecos são esses? Vou lhe mostrar a mais nova e gigantesca aquisição. A joia da minha coleção.





0h49. As fotos não fazem jus à estátua pessoalmente. Deve estar pensando, é babaca mesmo, infatiloide, coleciona bonecos de super-heroi. Isso é muito humilhante, sabia? Obviamente, você está lendo e vendo que é patético. Eu queria ter uma voz diferente, que eu nunca tenha lido. Eu acho que quando estou doidão eu encontro essa voz única. Não sei se boa ou se ruim, mas nova, diferente do que os outros já fizeram. Essa não é uma carta de amor tradicional. Eu não estou tenso pensando que posso dizer uma coisa equivocada, tentando ser romântico demais, nada disso. Estou mostrando quem eu sou. O que sinto e o que penso, especialmente em relação a você. E estou dizendo com a maior transparência possível. Imagino, como já fiz algumas vezes, você deitada na minha cama, de bruços, com a cabeça voltada para o meu lado enquanto escrevo, você olha suas unhas, pintadas de vermelho, veste uma camiseta de pijama e uma confortável calcinha e me pergunta alguma coisa. Eu olho a cena e me encanto. Pura ilusão. Uma ilusão de você. Vinda da cabeça de outra pessoa, que você mal conhece. Isso é esquisito. Será que esse cara é algum tipo de maníaco? Ele fez suposições muito verdadeiras sobre o meu trabalho. Relaxe, quem tem medo sou eu. De você. Se nos cruzássemos, não saberia como agir, bateria um pânico, eu iria querer me enterrar. Acho que não vou mandar isso. A plateia de bonecos quer que eu mande. Não sei, terei que reler amanhã fora do efeito. Mas acho que não disse nada demais. A larica bateu, eu vou comer.

1h20. Porra, esqueci de fumar o digestivo. Momento.

1h27. 27, um dos meus números da sorte. Se bem que aqui não estamos tratando de sorte. Estou tecendo um texto nada convidativo à consecução do seu intento. Isso é uma cartinha de amor, mas cartinhas de amor são coisas tão do milênio passado. Por isso a maconha, para dar uma pitada de século XXI. Hahaha. Não, sinceramente, eu não estava sabendo o que dizer de cara e queria me divertir com o resto da maconha e escrever isso para você me pareceu a coisa mais divertida e proveitosa que poderia fazer. Sei que estou passando um ridículo sem tamanho. Dizem que todas a cartas de amor são ridículas, mas eu me superei. Acho que escrevi a carta de amor mais ridícula de todos os tempos. Como queria construir com você algo que me levasse a olhar dentro dos seus olhos e dizer eu amo você. E a recíproca ser verdadeira. Mas o que vai acontecer é que vou virar chacota pública. Uma escolha estranha da minha parte. Me pareceu a mais divertida de todas, a melhor forma de alocar esse tempo e empregar essa lombra. Por que acabei com a minha última namorada, a com quem me dei melhor na vida? Por causa da maldita cola. Ela disse que seu eu cheirasse uma terceira vez, ela me deixaria. Paguei para ver e levei o pé na bunda. Como não foi desgaste conjugal ou coisa que o valha, continuamos sendo amigos. E só amigos. E, como já disse, acho que até isso está se perdendo. Para ela, vir me ver agora não é uma questão de prazer, é de obrigação. Ou assim fantasio. Como será que eu faria para escrever o meu blog tendo você como parte importante e integral da minha vida? Sei que você não vai querer ter a intimidade devassada e exposta a público. Teria que inventar uma maneira. Aliás, não precisarei, pois a senhora chuva de estrelas cadentes não cairá por mim. Novamente me vendo da pior forma possível. Logo eu que fui publicitário! Casa de ferreiro, espeto de pau. Hahaha. Não pense que fiz assim como forma de escárnio. Tenho você em mais alta conta. Chego a acreditar que poderia me apaixonar por você, suponho que tenha qualidades formidáveis. Que vão muito além da encantadora embalagem. Queria poder sentar e conversar bastante com você. Eu imagino um café na Praça de Casa Forte, topa? Pois é, do nada fiz o convite que venho elucubrando há tempos. Mas que agora, nesse momento, não me sinto nem um pouco disposto a encarar. Eu me torno mais antissocial com a maconha. Não sei se teria coragem de te beijar num primeiro encontro, não num café, acho muito difícil. Aliás, você é que teria de me beijar, ou iniciar o movimento do beijo para eu acompanhar. Foi assim que se deu com o meu primeiro beijo. Se a garota não tivesse chamado a responsabilidade para ela, o beijo não teria rolado. Se você tem o potencial de se tornar o amor da minha vida? Sinceramente não sei. Mas seria bom envelhecer tenho uma companheira que eu gostasse e admirasse. Será que você me geraria admiração? Acredito que sim. Será que você admiraria algo em mim? Não sei o que poderia ser. Talvez haja algo de gostável em mim. Não, acho que não estou com essa bola toda. Você pode tentar descobrir. A quem eu estou tentando enganar? Nem a mim consigo. Este caminho que escolhi trilhar na madrugada de hoje foi o mais divertido de todos, sem dúvida, mas você não vai levar nem as partes sérias a sério. Acho que todo esse pessimismo é a lombra arreando. O que mais poderia dizer a você que não disse? Sei lá, no momento, já estou com vontade de não repartir isso com você. Você pode ter como uma ação desrespeitosa, o que não podia estar mais distante da verdade. Só escrevi nesse estado para ter coragem de dizer toda e qualquer coisa que me ocorresse a seu respeito e a respeito do meu sincero interesse por você. Por você eu adaptaria a minha rotina para lhe acomodar. Ainda estou na larica. Vou comer mais um pouquinho. Não tinha comido nada hoje ainda. Eu costumo comer por volta do horário que comi hoje. Isso já seria uma coisa que eu teria que mudar por causa do relacionamento. Ah, não transo em primeiras ficadas. Só se por algum milagre que me escapa, você conseguir me persuadir a isso. Sei que não vejo você apenas como um cabide de buceta, como algo para ser consumido e descartado. Pelo contrário, vejo você como uma pessoa interessantíssima que adoraria conhecer melhor. Uma mulher que está num processo de desenvolvimento e reinvenção massa. Se descobrindo mais mulher e mais exuberante que outrora. Assumindo mais sua sensualidade. Pelo menos, eu acho. Mais empoderada, mais dona si mesma. Menos a filha e mais a adulta que constrói a própria vida. Não consigo divisar se você tem o sonho de ser mãe. Eu não tenho vocação para ser pai. Meu exemplo de vida não serve de espelho para um filho. Tenho isso muito sólido na minha cabeça. Mas nada que não possa ser revisto com a persuasão certa. Ah, a sua foto de perfil parece a capa de um CD, ficou artística, esconde mais do que revela. É interessante. Aqui no meu quarto-ilha são 2h21. E devido à grande quantidade de café consumida hoje, não estou com sono. Estou na maresia da coisinha que fumei, ainda bem que agora já peguei o embalo para escrever. Ainda rolando “Utopia” de Björk...

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14h13. Minha mãe apareceu para cortar o meu barato e me mandar dormir. Pois é, em muitos aspectos, eu sou mais filho que adulto. Acordei há uma meia-hora, hora que geralmente acordo mesmo e não estou lombrado agora, então talvez a cadência e o conteúdo do texto mudem. Não tenho mais maconha e isso não me faz muita diferença. Vou colocar “Utopia” para rolar, tenho uma xícara de café para ajudar Tico e Teco a se entenderem. E visto uma roupa confortável, dessas que não se veste para visitas. Não haverá visitas. Na minha casa raramente há. Estou pensando em andar por sua causa. É preciso um motivador para tal intento e não possuo melhor do que vossa senhoria. Eu nem lembro o que escrevi acima, então a possibilidade de redundância é grande. Você sempre aparece nas minhas sessões de terapia. Comecei há um mês, ontem foi a quarta sessão e foi por falar em você que decidi escrever essa carta, mas começo a achar uma má ideia mandá-la. Por outro lado, se não tinha nada, continuarei sem nada ter, com a satisfação apenas de que você possivelmente vai ler isso. Mas acho que é uma carta que me denigre mais do que qualquer outro efeito que eu deseje alcançar. Pelo menos, na parte em que estava doidão acessei conteúdos que não acesso normalmente, o que revela uma faceta diferente de mim. Acho que a convidei para um café na Praça. O convite se mantém, por mais que me dê um embrulho no estômago um encontro a dois com você. Não me sinto preparado para isso, preferiria muito mais cruzar com você numa noite dessas e, num esforço hercúleo, tentar uma interação. Coloquei você num pedestal e isso não é legal, pois assim me parece que você é um ser superior e inalcançável. Tenho que lembrar que você é um bicho humano como eu que come e caga e talvez seja capaz de amar, por mais fora de moda que o amor esteja se tornando. Acho que vivemos a era do consumismo de corpos. O meu não está disponível para isso, não quero me meter nessa roda louca de ter várias parceiras só com o intuito de meter. Primeiro que nem sei abordar garotas, segundo o sexo depois de praticamente uma década de celibato, tornou-se algo secundário, sem a importância que o circo midiático faz sobre o assunto. Em verdade, no sexo, pelo que me lembro, gosto muito mais das preliminares do que da penetração em si. Sou um homem ao avesso. Hahaha. Meu deus, como essa carta está troncha, fugiu completamente ao meu controle e às minhas expectativas. Gostei pelo menos da comparação com a chuva de estrelas cadentes, acho válida e bela. Como você. Ou o que suponho de você pelo que pude aferir da sua página de Facebook. Se posso prever outra coisa baseada em seu perfil? Que você domina um segundo idioma que suponho ser inglês, pois as fotos do estrangeiro me parecem ser dos Estados Unidos. Não há muito o que desvendar mais e não memorizei o seu perfil porque só o vi algumas vezes há um tempo. Olhei para ele quando fui mandar a mensagem lhe dizendo que comporia esse texto, mas sem escrutinizá-lo. Apenas cliquei no botão de mensagem e escrevi o texto antes que a coragem me escapulisse. Nossa, que calor, vou ligar o ar. Eu preciso começar a pensar em dar fim a essa carta. Ou não. Eu sou livre para escrever o que eu quiser e você não é obrigada a ler, embora ache que lerá porque, de alguma forma, eu desperte a sua curiosidade.

14h58. Fui cortar as unhas, estava me devendo isso. É tão bom imaginar que estou sendo visto por seus olhos, que são eles que decifram esses caracteres postos meio a esmo na página, sem a rigidez calculada de uma poesia. Se consigo fazer uma poesia pensando em sua pessoa agora? Não sei, posso tentar.

O tempo passa
E ela a bailar sem par pela vida
Gosta da liberdade de ir e vir
Nunca ficar
Ou só ficar e nada mais que isso
Numa caixa mui rubra
Guardo para ela uma luz
Que só se acende a dois
Mas ela segue a bailar só
Deixando qualquer luz para depois

15h04. Não estou muito bom para poesias, nunca fui bom de poemas, em verdade. Chego à conclusão que tenho muito pouco a lhe oferecer, não me enquadro nos padrões sociais vigentes e quem quer ter um namorado “esquisito”? Nossa, acho a palavra “esquisito” muito forte para me definir, prefiro excêntrico. A outra denota doença, essa denota comportamentos peculiares. Tenho uma série de comportamentos peculiares e a minhas condições social e jurídica são peculiares. Mas sou um ser humano válido, talvez um que respeite o sexo oposto em excesso ou que esconda nesse respeito uma falta de autoconfiança patente. Acho que só faço me denegrir nessa carta, gosto mais da parte em que estou doidão, eu acho, pois nem revisei ainda, revisarei tudo de uma sentada só. Acho, entretanto, que você mereça o esforço de eu lhe escrever alguns milhares de palavras. Por mais que não tenha tido a oportunidade de conhecer a pessoa que você é. O que tenho de você são suposições baseadas no seu perfil de Facebook, o que é muito pouco. E que podem ser absolutamente equivocadas.

15h20. Fui pegar um café. O que posso lhe dizer mais? Sobre mim? Estou digitando o diário que escrevi quando internado num manicômio privado. Por estranho que isso possa soar, a maioria das passagens é pitoresca, não tem aquele clima de inferno que o nome “Diário do Manicômio” faz supor. Acho que já contei isso, mas um amigo meu, cineasta, está fazendo uma produção sobre um ano da minha vida. Ele disse que vai unir as imagens, que são basicamente de mim escrevendo, pois é o que faço da vida, com trechos do Jornal do Profeta, meu blog principal. Descobri que um monte de gente que eu conheço está sabendo disso, o que me constrange deveras. Vai acabar de filmar no meu aniversário agora em abril. Vou me sentir meio órfão dos nossos encontros e de tentar agir naturalmente diante das câmeras. Tem sido uma experiência curiosa e o meu lado exibicionista adora. Não sei como ele vai tecer uma narrativa só com imagens de um cara escrevendo, como isso se sustentará sem ser absolutamente entediante para o espectador, mas isso é o desafio dele, fiz o que me foi proposto. Quando e se essa obra vir a luz do dia, eu te mando um link, talvez diga mais de mim do que essa carta sem pé nem cabeça. Só estou escrevendo porque me comprometi. E comprometo a minha imagem fazendo isso. Hahaha. É a vida que segue e como disse, nesse breve espaço de tempo que vai do nada ao nada que é a vida, escolhi esse caminho de deitar palavras para você porque isso me diverte. Não acredito que vou lhe cativar com essas palavras, não como me saíram. Você é uma personagem importante no meu imaginário, então merece, sim, que eu destine meu tempo e intelecto e um pouco de coração a você. Digo pouco de coração porque não posso me apaixonar por quem não conheço de fato. Nossa, quando paro um pouco para pensar no que estou fazendo, vejo o quanto é ridículo, que papel de babaca estou fazendo. O mais completo babaca. É isso que você deve achar de mim, se não me achar doido. Acho que doido eu não sou, já convivi com eles e sei que não me enquadro na categoria. Sou um ser humano carente de afeto, afeto de amantes, que não sabe buscar tal afeto pelas vias comumente usadas e busca de outra forma tresloucada tentar... isso é uma idiotice. Essa carta toda. Ela deveria ser uma propaganda de mim e de tudo de maravilhoso que eu posso oferecer, amor, compreensão, intimidade, companheirismo, amizade e todas essas coisas boas que só um relacionamento pode fazer desabrochar na alma de um casal enamorado. Ao invés disso, escrevo metade da carta doidão e a outra metade com o superego me detonando. E ainda admito que coleciono bonecos! Hahaha. Pois coleciono e amo a minha coleção. Pode ser algo que remete a infância uma indicação de uma posição infantilizada perante o mundo, pode usar todo o seu arcabouço psicológico para denegrir a minha coleção, mas isso não me fará menos orgulhoso dela. Acho em verdade que eu tenho medo de assumir um relacionamento, até mais que você. E que me autossaboto com empreitadas como esta. Se bem que posso simplesmente deixar essa carta de lado e escrever um texto publicitário a meu respeito. Mas não quero, não sou assim. Sou mais como esse texto. Inseguro, carente, com medo de mulher. Um cara que vive a escrever para emprestar alguma validade à sua existência. Um cara que, por causa desse hábito, vai se distanciando mais e mais da sociedade a ponto de ter estranhamento quando se aventura nela. Um cara que um dia se viu numa festa e pensou, isso é um grande teatro, todos se arrumaram da forma que achavam mais pertinentes e vieram se exibir uns para os outros, eu incluso. Mas acredito que tal teatro social seja a camada superficial das relações sociais, acredito que com mais intimidade as máscaras vão caindo e a relação passa a vir de uma parte mais profunda e autêntica do ser. Poucas são as pessoas com quem tenho intimidade e mal as vejo, à exceção do meu primo-irmão, com quem me sinto amplamente confortável para me repartir. Acredito que se me desse a chance, conseguiria conversar com mais pessoas nesse nível mais profundo, íntimo, mas não sinto empatia suficiente para isso. Cada vez sinto menos. É aí que se encaixa um relacionamento na minha vida, vir me resgatar desse buraco antissocial em que me enfiei, me dar a mão para sair para o mundo de peito mais aberto, me sentindo mais válido, visto que querido e muito bem acompanhado. Gosto de andar de mãos dadas. Um prazer simples que me faz tanta falta e que depende integralmente do outro e da relação existente entre ambos, pois não andaria de mãos dadas for the sake de andar de mãos dadas, é necessário um afeto, um desejo real de ter tal mão entrelaçada à minha. Estou escrevendo coisas mais disparatadas que ontem. Hahaha. Vai ver que sou doido mesmo. Quero ver como vou pôr fim a essa carta. Pois começo a pegar gosto pela escrita de novo, começo a esquentar. O grande saco é revisar isso, reler todo o monte de baboseiras que despejei para você, minha pequena chuva de estrelas cadentes. Será que daríamos certo, será que aguentaríamos as manias um do outro? Será que você teria a ousadia de me exibir como o seu parceiro, da mesma forma que me orgulharia demais em tê-la como minha namorada? Faria um bem tremendo à minha autoestima. Nossa, inimaginável para mim. Tenho que admitir, porém, que muitas vezes você teria que sair sem mim, pois não sou muito dado a saídas. Nossa, e odeio essas datas comemorativas, em especial dia dos namorados, acho o maior programa de índio ir celebrar a data com todos os locais lotados, de restaurantes a motéis. Prefiro comemorar uma semana antes ou depois. Para mim, em se namorando, todos os dias são de celebração. Será que faríamos viagens juntos? Acho que desisto da ideia de namorar. Hahaha. Odeio viajar e já tenho uma viagem agendada, passagens compradas para Munique no final de junho. Nada contra Munique, é uma cidade belíssima e com um grau de civilidade ímpar. Mas não gosto de sair do meu quarto-ilha. Não gosto de sair de Recife. Mas tenho para mim que você tem especial apreço por viagens. Aproveitar feriadões para viajar a mim me parece outro programa de índio. Graças aos céus, ao acaso ou ao destino, tenho sido poupado de tais empreitadas. Se encararia por sua causa? Acredito que sim. Mas acredito que só das primeiras vezes. Depois acho que você teria que ir com os seus amigos, pois o desconforto que se passa por causa de uma mudança de rotina não compensa. Por que não compensa? Porque eu gosto da minha rotina, não preciso fugir dela. Mas acho que o prazer de te ver de biquíni me animaria. Hahaha. Acho lindo mulheres com as costas nuas. Mulheres com belas costas, como é o seu caso. Quando chegar a cinco mil palavras eu paro de escrever. Estamos com 4469 palavras. Falta pouco. Está me divertindo escrever isso para você, garota da noite. Fazendo cada projeção absurda e já me dizendo um namorado pouco empenhado, mas que dá total liberdade para você viver as suas aventuras. Não sou aventureiro, sou um cara caseiro, o meu quarto-ilha é o meu castelo e é preciso uma boa razão para deixá-lo. Você é a melhor razão que consigo divisar. Mas saio também para exercitar o meu lado social. E porque, às vezes, me bate o tédio aqui no meu mundinho onde me encerro em mim mesmo. Estou batalhando na terapia para me tornar mais sociável, mas temo que o processo seja irreversível ou que só se reverta com uma relação que ache válida de fato, como um namoro. Nossa, isso se afigura como uma grande cagada que vou fazer da minha vida. Vou virar motivo de piada. Por que passar por isso? Só porque dediquei horas a esse texto? O Windows pede para eu reiniciar a máquina para atualizações. Vou fazer isso enquanto considero a pertinência de publicar isso num dos meus blogs “capilares”, como os chamo, e lhe repassar o link.

16h52. Será que o destino e os quereres de duas pessoas tão díspares poderiam fazer suas vidas se entrelaçarem? Nossas vidas se entrelaçarem? Acho a possibilidade disso tão remota quanto tirar na loteria. A única diferença é que na loteria eu não jogo e, no nosso caso, eu jogo algumas notas para você. Infelizmente, o meu hábito de ser franco atrapalhe. Não vou me pintar como o príncipe encantado que não sou. Também não deveria me denegrir em demasia. Essa carta está me saindo pior do que se um inimigo a tivesse escrito. Eu, maior inimigo de mim mesmo. Hahaha. A luz do quarto vai se esvaindo com a tarde que cai. Será que alcançarei as tais 5000 palavras antes de a noite me alcançar? O que realmente queria dizer para você? Que eu tenho um coração bonito, que eu sou diferente, que gostar de mim é como aprender a apreciar um bom vinho, é um gosto adquirido que se prova recompensador do esforço. Que eu quero reaprender a viver a dois, que tenho disponibilidade para isso. Que não sou um cara violento nem dono da razão. Que eu respeito e gosto de ser respeitado. Que eu acho intimidade uma commodity rara nos dias de hoje e tão mais preciosa por causa disso. Que tenho minhas neuroses, mas quem não as tem? Que sou bastante carinhoso quebrado o gelo inicial. Que não se preocupe que eu nunca tomarei a iniciativa da corte, então se nada disso fizer sentido para você, seu eu não fizer sentido para você em sua vida, minha presença não precisa nem deve ser evitada. Mas espero pelo menos que você me conte como é o trabalho que você faz no hospital. Guardo essa curiosidade até hoje. E acho que seja um belo trabalho. Gosto de coisas belas. Acho você bela e com grande potencial de ser bela também por dentro. Acho que nos daríamos bem, acho que poderíamos nos apaixonar e até quem sabe, prêmio maior, nos amarmos. 4997 palavras. Pronto, 5000.


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Para o leitor que caiu aqui por acaso e quiser ler mais de mim, acesse o link abaixo.

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